O poder sobre o consumidor (im)paciente...

Admiro o trabalho de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico e em saúde que a Novo Nordisk vem fazendo há tantos anos. 

Acho um luxo termos, aqui no Brasil, uma fábrica que produz 15% de toda a insulina que é distribuída pelo mundo. 

Mas gestão de saúde vai muito além... 

Fazer gestão de saúde é planejar, pensar em logística, abastecimento e, principalmente, seguir com ética e responsabilidade. 

Uso a Tresiba desde 2016 e, de todas que passaram pelo meu tratamento, é a melhor na minha opinião. 

E como sou organizada (de verdade, sem falsa modéstia ou sem querer destacar qualquer coisa como vantagem), quando abro a minha última caneta de insulina já começo a minha pesquisa para comprar outra (ou outras, se conseguir alguma promoção ou desconto que valha a pena).

Dessa vez não foi diferente. 

O diferente é que eu não consegui achar em nenhuma farmácia. 

Procurei por vários dias - em lojas físicas, aplicativos, sites, por telefone - e já estava entrando em pânico quando, finalmente, consegui em uma unidade da Drogaria Venâncio na Tijuca. 

Vamos aos fatos...

O primeiro é que a Novo Nordisk mudou a forma de venda da Tresiba. Agora eu não posso mais comprar uma única caneta de insulina; só vendem em caixa fechada com cinco unidades. 

Eu soube disso através de um email informativo padrão, sem que qualquer explicação ou justificativa fossem apresentadas. 

Até onde eu acompanhei, não houve uma consulta prévia a pacientes, médicos, cuidadores, responsáveis... 

Parece realmente que foi uma decisão arbitrária da fabricante.

- Ah, mas eles não tem que avisar para cada pessoa que usa que vão mudar.

É aí que entra a 'tal' da responsabilidade, da ética.

Insulina não é bala. 

Insulina não é opcional.

Insulina é salva vidas.

Quem precisa aplicar insulina diariamente, precisa para garantir a VIDA.

Todo dia. Sem intervalo. Sem folga.

Mas e quando não tem?

Não pode faltar nas farmácias de distribuição do SUS.

Não pode, também, faltar para quem compra nas farmácias privadas.

Eu não sei o que levou a Novo Nordisk a mudar a forma de venda. 

Mas não parece ter sido pensado que esse custo pode impactar cada pessoa que usa a Tresiba. 

Cada um sabe da sua necessidade e, mais do que isso, cada um sabe até onde o bolso alcança. 

Como comparativo, eu comprava uma caneta por R$144 ou R$148. 

A caixa com 5 está sendo vendida por R$1.053 (preços de 21 de março na Droga Raia, na Pacheco e na Pague Menos), que joga o valor unitário para R$210,60.

O aumento é de cerca de 50%!!!! 

É uma loucura isso! 

Consegui comprar por R$740 na Venâncio, com desconto do Programa NovoDia (que é um programa de benefícios e descontos da Novo Nordisk; mais informações aqui).

Só que é impossível não pensar em como vai ser se o programa de descontos deixar de ser aplicável...

Outro fato é: não bastassem alterar a forma de venda do produto, ao que tudo indica não houve uma preocupação em garantir estoque. 

A Tresiba estava em falta pelo país todo. 

Tenho visto nas redes sociais muitas reclamações e muitos relatos sobre o desabastecimento.

Espero que haja consciência da Novo Nordisk em regularizar a distribuição da Tresiba lembrando qual o papel da insulina na vida de uma pessoa com diabetes. 

Enquanto isso, já deixo no ar mais uma coisa que não sai da minha cabeça: a insulina sumiu das prateleiras, mas o tal do Ozempic não sai do pódio de primeiro lugar de vendas. 

E levou a fabricante ao segundo lugar no ranking de inovação da Fast Company (uma empresa de mídia que atua com tecnologia e negócios) esse ano: 

Enfim, muitas questões ainda a esclarecer...

Vamos em frente! 

Vamos medir a glicemia;

Vamos contar carboidratos;

Vamos aplicar insulina;

Vamos seguir questionando! 

Diabetes tipo 1 não é escolha. 

Ter segurança na compra dos insumos para o meu tratamento deveria ser.