Com rum, sem açúcar!
Praticamente duas semanas desligadas do mundo e estamos de volta. Passamos os últimos 12 dias em Cuba.
Para começar, vou falar sobre uma coisa que deve ser de atenção máxima tanto na ida quanto na volta de uma viagem internacional: o fuso horário. Sei disso, mas dessa vez acabei não prestando atenção neste detalhe quando foi servido o café da manhã no voo, quase na chegada no Panamá para a conexão.
O intervalo de tempo menor do que o devido entre as duas doses da insulina basal, a da noite e a de jejum, acabou fazendo com que ficassem sobrepostas.
Consequência: hipoglicemia logo que desembarcamos!
Compramos um chocolate e correção feita.
Mas isso acabou me deixando perceber que eu tinha cometido uma outra falha de principiante: dentre os lanchinhos comprados especialmente para levar, não tinha nenhuma opção que fosse com açúcar!!
Voltei na lojinha e me abasteci de chocolate para evitar qualquer problema em caso de uma hipo durante o período da viagem.
Carmencita, amiga-irmã caçula que viajou comigo, sabe sobre o DM e cuida!
Presta atenção nas minhas glicemias, fica de olho nos horários pra não ficarmos muito tempo sem comer... Mas, repassamos os procedimentos e instruções para medir a glicose e aplicar a insulina ou o glucagen (novidade na área... logo farei um post específico), caso preciso.
Tudo certo, embarcamos novamente!
Chegamos em Cuba.
Primeira parada: Havana.
Não nos levou nem um dia para perceber que tínhamos chegado também em outros tempos, por volta de 1950.
O compromisso não é exatamente com uma reserva feita para hospedagem em uma Casa Particular específica, mas sim em conseguir para você uma Casa onde possa ficar.
Sem qualquer constrangimento, eles te recebem e informam que, por alguma razão, o hóspede anterior não pôde sair e com isso sua reserva agora é em outra casa. De parentes ou amigos, não importa. Funciona assim!
Água quente e disponível 24h também deve ser levado em consideração na escolha da Casa... Vimos - na prática - que não são todas que te oferecem um banho quente a qualquer hora!
Modos, hábitos, costumes, valores...
Nada fácil de assimilar e, menos ainda, se acostumar.
De início, ficamos hospedadas no bairro Vedado, menos turístico, tipicamente cubano.
A vida como ela é: difícil achar uma padaria, mercado, uma garrafa de água mineral para comprar.
Nos deparamos com ruas escuras, calçadas quebradas, prédios e casas bem destruídos, os centros de distribuição de alimentos para a população...
Depois da chuva e do frio inesperados do primeiro dia, decidimos voltar pra casa mais cedo e descansar. Não jantamos... Comemos um biscoitinho salgado no quarto mesmo e, para garantir que a glicemia não ficasse descompensada, tomei uma unidade a menos da Levemir.
No dia seguinte, 108 mg/dL. Não corrigi e reduzi em uma unidade a dosagem de jejum, já que tínhamos decidido tomar o café da manhã um pouco mais tarde.
Começamos a explorar a cidade e ver de perto lugares de grande importância para a história.
Muita caminhada e alguns passeios depois, meu docinho estava 79 mg/dL!
(Daí a importância do paciente conhecer e ser o principal ator do seu tratamento)
A noite foi de jantar com pizza... Por lá, todas as pizzaria são cheias, das menores, que são quase escondidas numas janelinhas de uma casa, até as maiores (a Habana Pizza vale a pena! A pizza é boa e barata. Ah, e servida na mesma travessinha em que é assada, sem talheres ou guardanapos).
Em relação à alimentação, apesar de ter ficado com a impressão de que eles se alimentam de pizza e sorvete (a sorveteria Copellia, bem tradicional, tem filas enormes de pessoas locais), comemos bem. Ótimas lagostas e peixes (outros nem tanto), porções enormes mas com acompanhamentos frios.
Destaque para os chips de banana fritos e para o arroz com o feijão, temperados com cominho.
Mojitos são opção fácil e quase obrigatória em qualquer esquina (não amei, as Piñas Coladas eram bem melhores e o rum vinha na mesa para gente completar ao nosso gosto!). Já toalhas de rosto e pisos no banheiro são artigos raros.
Na noite que resolvemos ir a um Jazz Club (um sábado) a abordagem na rua foi desconfortável. Desde beijinhos jogados e 'psius' até tentativas infinitas de saber de que país nós éramos, uma sensação de invasão e opressão. Nada aconteceu, mas não foi uma boa experiência.
Na manhã seguinte, uma hipo de leve.
Para evitar que se repetissem, considerando as grandes distâncias que estávamos caminhando descobrindo os cantinhos das cidades, passei a não corrigir mais as glicemias pré-prandiais (que ficaram entre 85 e 105 mg/dL na maioria das vezes).
Além disso, a decisão de reduzir em mais uma unidade a dose de insulina da noite.
Bem pertinho da nossa casa no Vedado (praticamente em frente), Carmem viu uma casa que era, na verdade, um Centro de Atenção ao Diabético.
Uma pena não ter tido a oportunidade para saber mais informações sobre os atendimentos e o funcionamento...
Continuando pela história de Cuba, pegamos a estrada para Trinidad.
O café da manhã foi no caminho e quando chegamos, decidimos ir almoçar em um dos restaurantes mais comentados da cidade. Nada mais justo do que comer o prato que era o carro chefe da casa: frango com molho de limão e mel. Corrigi o docinho por conta e medi duas horas depois: 115 mg/dL! Bingo!!
Na manhã seguinte, programação especial: uma pedalada até a Península de Ancón - cerca de 25km, ida e volta.
Dose de Levemir de jejum reduzida já que a atividade física maior que a usual já seria um fator de compensação.
O café da manhã foi especial também... Sem contar o suco, o capuccino (vale observar que quase 100% das vezes que pedimos às bebidas sem açúcar, nos informaram que o preparo não tinha açúcar adicionado... Ótima surpresa!) e as torradas com manteiga, me dei ao luxo de comer um pouquinho de mel.
Aqui aproveito para dar uma dica: para quem usa adoçante, se quiser ir a Cuba leve o seu... Praticamente não vimos, mas para mim isso não era um problema já que bebo sucos e cafés purinhos.
Mas vale avisar, quando a escolha for o café da casa, para não colocarem açúcar no suco. Uma única vez o nosso suco de goiaba (as goiabas de Cuba são maravilhosas!!) estava adoçado, mas quando comentamos que eu não podia, a nossa hostess fez uma outra jarra sem!
Em todas as casas que ficamos, tínhamos uma geladeira ou frigobar à disposição, mesmo que fora do quarto.
Para as insulinas que estão em uso, não é preciso refrigeração. Mas sempre que viajo, levo refis (lacrados) a mais e estes sim precisam ser mantidos refrigerados.
Pois bem... Quando eu achava que não podia pensar em mais nada em termos de cuidado e precaução, Camencita veio com a ideia de pegarmos sachês de açúcar e deixar na bolsa, para o caso de uma queda brusca e repentina no docinho ("a gente não vai precisar usar, mas é bom ter").
A tranquilidade máxima durante a viagem estava garantida, tendo do lado alguém que é doce junto.
Pegamos estrada de novo, dessa vez para cachoeiras de El Nicho, no caminho para Cienfuegos.
De tirar o fôlego de tão lindas!
Seguimos para Cienfuegos e, de novo, a surpresa de chegar numa cidade e a nossa casa não ser a que reservamos...
Stress, desapontamento, até que depois de um belo pôr do sol conseguimos enfim acalmar e sentar para comer e beber.
E olha aí o registro: piña colada 'sin azucar'!
Como fomos de pão, muito azeite e cogitamos a possibilidade de comer uma sobremesa, corrigi a glicemia já contabilizando tudo.
E não é que me precipitei??! Nosso jantar que foi só de entradas bem gostosas e não teve prato principal, não deixou espaço para o doce de sobremesa. Um café com rum para encerrar!
No meio da madrugada, uma hipoglicemia bem grandinha!! Susto na caçula, que ficou preocupada, uma dose de chocolate e a lição de só corrigir o que será ingerido no momento.
Se depois decidir comer mais e for preciso, faz-se uma nova correção...
Uma percepção foi a de que, apesar de não ser um fator limitador, não é bom logo depois de uma semana de ritmo puxado e já um pouco fora da rotina, como o Carnaval, emendar uma viagem a um lugar diferente e onde o acesso a produtos considerados simples não é exatamente fácil, como Cuba.
Talvez a opção por um lugar mais tranquilo e de cultura mais próxima à nossa seja melhor para colocar mente e corpo de volta ao eixo.
Uma carga emocional, tal qual a trazida pela cultura e pela maneira dos cubanos em tratar com pessoas e certas questões, pode interferir no controle e na manutenção das glicemias em índices estáveis.
Voltando aos hábitos locais, era raro ter sabonete nos banheiros de lugares públicos (às vezes, nem água!). Por isso, nosso kit de sobrevivência - lenço umedecido, lencinho de papel, sabonete líquido e álcool gel - ia junto sempre.
Medir a glicemia sem lavar as mãos com água e sabão pode levar a um resultado falso e a consequência pode ser uma correção desnecessária no docinho.
Na volta pra casa, café da manhã reforçado, já que não daria tempo de almoçar, e um lanchinho sem vergonha no aeroporto para despedida: pizza e cerveja.
Para fechar com chave de ouro e colocar mais um item na lista de aprendizados da Carmem, medimos a pós-prandial: a minha e a dela.
Como eu não tinha corrigido a glicemia pré por conta do tempo que teríamos pela frente sem comer (fiz de caso pensado e sem me arriscar, qualquer coisa diferente disso seria errado), estava um pouco mais alta do que deveria... Mas corrigi na refeição seguinte e assim sabia que evitaria grandes variações durante os voos.
A dela estava tinindo, dentro do previsto.
Por fim, mais uma vez a certeza que o diabetes não é um fator impeditivo para nada, desde que nós sejamos plenos conhecedores da condição e dos cuidados mínimos necessários.
E, seja no dia a dia ou correndo o mundo, ter alguém para dividir e ajudar só deixa tudo ainda mais fácil.
Explique, fale sobre, divida.
Eu garanto que é melhor!
Agora, de volta às pesquisas, aos estudos e assuntos da vida doce.
Sabe aquela máxima de que "viajar é muito bom, mas voltar pra casa é melhor ainda"?!
Feliz por estar de volta.
O saldo da viagem foi positivo. Foi incrível e uma experiência e tanto, mas já estava com saudade.
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