Crônicas do Isolamento -- Achismo não é ciência!

Quarentena.
1 ano.

365 dias depois daquele primeiro dia de quarentena e do início do home office, consigo perceber e entender claramente o porquê dos medos que eu sentia um ou dois meses depois do isolamento ter começado. 

O choro excessivo quando falava com a minha mãe, a raiva a cada pessoa que eu via resistindo às medidas de segurança que vinham sendo propostas...

Ouvir o jornal declarar 14 mortes em um dia me machucava. Ouvir quando alcançamos um total de cerca de 4.500 vidas perdidas me machucou. E hoje, ver que continuamos subindo nessa escala triste de histórias encerradas por falta de uma governabilidade correta e humana, por falta de políticas públicas de verdade e de ações pelo coletivo me machucam ainda mais. 

Tenho medo sim. 
Medo por mim, pela família, pelos meus amigos. 
E quer saber? Respeito meu medo!

Tenho medo de ter COVID e não saber como meu organismo vai encarar.
Medo de ter COVID, precisar ficar internada e não saber como vai ser a gestão do meu diabetes num hospital.

A comparação com o medo que veio no diagnóstico do diabetes acaba chegando, não tem jeito. 
Lá, naquele março de 2009, eu achei que tudo não passava de um erro. "Imagina, eu que nem ligo para doces..."
Achei que insulina fosse resolver tudo nas primeiras semanas e que logo meu corpo daria sinais para dizer que eu não precisava mais daquelas injeções. 

Com a pandemia, eu também cheguei a pensar que seria um susto desses que em poucos meses teria ficado na lembrança.
Achei que o isolamento e as máscaras seriam a parte certa de um movimento consciente que dizimaria o vírus. 
Achei que, como um país reconhecido pela alegria e acolhimento do seu povo, o valor do coletivo falaria mais alto frente ao individualismo. 

Achei que depois de tanto tempo convivendo bem com o diabetes, eu não me sentiria ameaçada 'só' por ser uma pessoa diabética. 

Quando eu fui diagnosticada, entendi que tinha que me dedicar ao meu tratamento e pronto. Que apesar de todos os questionamentos que me deixavam procupada, uma hora tudo ia se acalmar. 
Com a pandemia, tem sido a mesma coisa. Entendi qual é o meu papel nisso tudo e quais são as minhas obrigações: me cuidar seguindo as orientções dos especialistas e da ciência.

E, olha que legal: diferente do diabetes, que o meu cuidado tem um benefício direto somente a mim, os cuidados relacionados à prevenção do coronavírus beneficiam à mim e a quem está à minha volta. 
Quando eu uso máscara, eu protejo meus vizinhos, meus porteiros, os operadores de caixa do supermercado, os entregadores... 
Incrível, não é mesmo?! 

Seria. Se cada um tivesse um mínimo de consciência, seria incrível.
Por que é tão difícil entender que a sua decisão - seja de cumprir os protocolos ou não - impacta em todos?

Eu também estou cansada. 
Eu também sinto incômodo com a máscara. 
Eu também estou com saudade de tudo e de todos. 

Um ano é muita coisa... 
Um ano em casa
Um ano sem abraços 
Um ano longe de quem a gente ama 
Um ano sem cinema 
Um ano sem viagens 
Um ano isolada. 

Ainda assim, eu escolho pelo respeito e pela proteção. 

Uma festinha não realizada pode salvar milhares de vida. 
Um passeio ao shopping que seja evitado pode poupar o sistema de saúde, que já saturou.
Um solzinho pela janela, em vez de ser mais um lotando as praias, pode proteger todos os profissionais que estão nas ruas lutando pelo seu povo e para manter a sua própria família alimentada. 

Não tem remédio que previne. 
Não tem chá, não tem erva, não tem achismo. 
Achismo não é ciência. 
Vacina é. 

Paciente 
adjetivo de dois gêneros. 
1. que tem paciência (virtude); sereno, conformado.
2. que sabe esperar, calmo. 

Paciente
substantivo feminino e masculino.
1. pessoa que precisa de cuidados médicos.
2. quem está doente.

Que seja sem calma ou sem serenidade.
Que seja até sem paciência. 
Super entendo! Cada um sabe de si e a gente não sabe, no fundo, como cada um está se sentindo e pelo que está passando. 
Mas que não haja conformismo!

Ainda não acabou. 

Escutem os especialistas. 
Acreditem em quem defende a população.
Ignorem quem nega a pandemia. 
Se afastem dos que optam por desafiar o vírus.
Repensem.

Ser paciente para não ser paciente. 

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