Crônicas do Isolamento -- De um (não) carnaval que passou

Não teve Carnaval. Mas teve.
E por já imaginar que seria assim, a decisão por sair do Rio nesses dias foi a mais acertada. 

Não é novidade que eu vivo o Carnaval de corpo, alma e coração. 
Então eu sabia que se ficasse por aqui e houvesse uma fagulha - pequena, que fosse - seria o suficiente para acender o fogo da folia e me fazer ir para a rua.

Por mais consciente que eu seja. Por mais racional que eu me mantenha nesses tempos ainda pandêmicos.  

E se por um lado eu sou contra porque entendo que ainda é arriscado, que ainda é preciso respeitar e prezar pelo coletivo, por outro eu sou a favor porquê, afinal, pode tudo. Pode festa fechada, pode mega evento, pode estádio de futebol, só não pode o Carnaval. 

Cancelar a festa do povo, a festa das comunidades, enquanto se mantém todo o resto com autorização para acontecer é incompreensível.

Pode deixar lotar espaços fechados, mas não pode deixar o Carnaval se espalhar pela Avenida, sob o céu azul de verão do Rio de Janeiro?

Fiquei sentida. 
Fiquei balançada.
Fiquei perdida entre a razão e a emoção. 

O coração carnavalesco pede pelos dias de catarse, de encontros, de abraços, de brilhos. 
Mas o coração doído pelos dois anos em pandemia dá uma baqueada quando vê a aglomeração. 

Ainda me sinto insegura e desconfortável andando por aí, seja numa ida ao mercado ou caminhando no calçadão, quando vejo pessoas sem máscara. 
Talvez seja um resquício das notícias pesadas que eram despejadas em cima da gente, quando fomos - nós, pessoas com diabetes - classificados como grupo de risco. 
As notícias só traziam o peso da falta de solução. O fim. 

O fim eu quero é desse receio. 
O fim do vírus. 
O fim do medo. 

Não tive covid. 
Não me contaminei. 
Em parte, acho que por alguma questão de (boa) imunidade - logo eu, grupo de risco por ter uma doença autoimune.
Mas no fundo, por ter me cuidado, me preservado e respeitado as regras e orientações que a ciência nos apresentou como caminho de segurança. 

Eu me cuidei.
Me vacinei com orgulho!
Por mim e pelos outros. 
Pelos meus. 
Pelos trabalhadores da saúde. 
Pelos profissionais que têm sido incansáveis. 

Eu me cuidei e não me arrependo. 

Até aqui, foram 716 dias desde o primeiro em que recebi a orientação de trabalhar de modo remoto. 
Quase dois anos do dezesseis de março de dois mil e vinte que iniciou uma quarentena que a gente não fazia ideia do quanto ia durar. 
Quase dois anos de uma insegurança que eu nunca tive por me saber diabética tipo 1. 
E posso afirmar sem exagero que de lá para cá foram aproximadamente seis mil vezes em que eu parei para medir a minha glicemia. 
Tinha certeza que uma variação esquisita na doçura seria o primeiro sinal de contaminação, caso acontecesse.

Agora, é cuidar mais uma vez enquanto entendo que preciso deixar o medo de lado e voltar a respirar do lado de fora da minha janela. 
A expectativa é que no Rio a obrigatoriedade do uso de máscaras seja suspensa a partir da próxima semana. 
Que tudo corra bem. 
Que realmente a gente consiga se libertar desses tempos de reclusão e distanciamento da plenitude dos dias. 


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