Pra insistir na mudança...
Em junho do ano passado fiz um questionamento à ANVISA acerca da possibilidade de trazer nas tabelas de informações nutricionais dos alimentos o índice glicêmico (IG):
"Boa noite,
Tenho diabetes e por hábito sempre verifico as informações nutricionais, de modo a avaliar a quantidade de carboidratos, fibras e valor calórico antes de comprar qualquer alimento. Me cuido bem e procuro me informar e me manter atualizada sobre tratamentos para o diabetes. Um dos aspectos que já foi comprovado é que o índice glicêmico influencia bastante no controle das glicemias. Por isso venho sugerir que seja avaliada a viabilidade de incluir esta informação como obrigatória na rotulagem nutricional. Desde já agradeço e me coloco a disposição para qualquer esclarecimento.
Atenciosamente,
Juliana."
Atenciosamente,
Juliana."
Claro que antes de mandar a sugestão, li a respeito da obrigação das informações nutricionais e também sobre as Leis que regulam esta questão, como foi contado aqui no blog.
Eles me responderam com uma negativa, devidamente justificada:
"Senhor(a),
Informamos que a ANVISA já avaliou solicitações referentes à inclusão do índice glicêmico dos alimentos em sua rotulagem, mas entendeu que tal abordagem era imprecisa e potencialmente confusa, podendo gerar mais engano do que benefícios. Segue abaixo algumas considerações que levaram ao indeferimento de tais pedidos.
1) O índice glicêmico não leva em consideração a quantidade de carboidratos ingeridos, um importante determinante da resposta glicêmica. Por exemplo, de acordo com a Tabela Internacional de Índice Glicêmico (Foster-Powell et al., 2002) a melancia apresenta um alto IG (72) e poderia não ser considerada adequada por um diabético mantendo uma dieta de baixo IG. No entanto, a melancia possui apenas 5 gramas de carboidratos por 100 gramas e, portanto, teria um impacto mínimo no efeito glicêmico.
2) O índice glicêmico nem sempre está relacionado à resposta de insulina que também deve ser controlada em pacientes com diabetes. De acordo com Venn e Green (2007) sabe-se que não é possível predizer a resposta de insulina somente com base na resposta glicêmica a um alimento. Collier e O´Dea (1983) encontraram diferenças significativas na resposta glicêmica de batatas adicionadas ou não de manteiga, mas uma resposta de insulina muito similar. O Relatório de Pesquisa sobre Índice Glicêmico (2007), apresentado pela empresa, mostra que apesar da diferença existente no IG dos produtos testados (Nutren Balance) em relação ao alimento de referência (glicose) a resposta de insulina foi similar.
3) Diversos fatores podem afetar a digestão e absorção de carboidratos e, conseqüentemente, alterar o IG de um determinado alimento, tais como: a natureza do amido, o método de cocção empregado, a forma de armazenamento, a presença de gordura, proteínas e fibras e o intervalo entre as refeições (Jenkins et al., 2002; Carreira et al., 2004). Além disso, a resposta glicêmica ao mesmo alimento apresenta elevada variação inter e intra-individual (Venn e Green, 2007). Esta variação pode ser em parte explicada por fatores genéticos, tempo de mastigação dos alimentos e variações biológicas nas taxas de digestão e absorção. Desta forma, a resposta glicêmica não pode ser considerada somente uma propriedade intrínseca do alimento, pois depende das características biológicas do indivíduo consumindo o produto.
4) Os diversos fatores que influenciam o IG de um alimento também tornam sua mensuração difícil e fazem com que as tabelas de índice glicêmico apresentem valores muito diferentes de IG para um mesmo alimento. Venn e Green (2007) apontam que existem fortes indicações que a mensuração do IG utilizando grupos de 10 indivíduos não é suficiente para obter resultados confiáveis, particularmente se os níveis de IG são elevados. Os autores citam o trabalho de Wolever et al. (2003), um estudo conduzido em sete laboratórios para a avaliação do IG de alimentos utilizando grupos de 8 a 12 indivíduos. Os resultados demonstram que existe uma grande variação no IG de um mesmo alimento. O arroz, por exemplo, seria classificado como um alimento de baixo IG por um laboratório, como médio IG por três laboratórios e como um alimento de alto IG pelos outros três laboratórios.
5) O índice glicêmico de um alimento possui pouca utilidade quando os alimentos são misturados em uma refeição. Venn e Green (2007) afirmam que embora esteja claro que a combinação de alimentos influencia o índice glicêmico da refeição e que a adição de proteínas e gorduras a uma refeição contendo carboidratos pode reduzir apreciavelmente a resposta glicêmica, não existem informações suficientes para predizer corretamente o efeito de diferentes combinações de alimentos. Este fato demonstra que o somatório dos índices glicêmicos dos componentes individuais de uma refeição não é capaz de predizer o real índice glicêmico de uma refeição.
6) O IG de um alimento não tem relação com seu conteúdo de fibras e micronutrientes. Ademais, alimentos com elevada densidade energética e altas quantidades de açúcar e de gordura geralmente apresentam um baixo IG (Venn e Green, 2007). Assim, as alegações sobre o IG de um alimento podem impactar de maneira negativa na escolha de alimentos pela população, seja estimulando o consumo de alimentos com elevada quantidade de nutrientes que devem ter uma ingestão controlada ou inibindo o consumo de alimentos importantes dentro de uma alimentação saudável, tais como frutas e vegetais, pelo fato de apresentarem elevado IG. De acordo com o sistema de classificação dos alimentos pelo seu índice glicêmico (Brand-Miller et al., 2003), a sacarose (IG = 68) seria considerada um alimento com médio IG e um sorvete com elevado teor de gordura saturada (IG = 37) seria considerado um alimento com baixo IG. O pão integral (IG = 73) com maior teor de fibras possui um IG superior ao do pão branco (IG = 70). Muitas frutas e verduras que devem ter seu consumo estimulado também apresentam alto IG como, por exemplo, melancia, banana e cenoura.
Atenciosamente,
GPESP."
Entendo que a questão não deve ser resumir a um único número, mas assim como temos as calorias e a quantidade de gordura, carboidratos e fibras, seria um dado complementar, e não em substituição à qualquer outro.
Deixei a questão 'guardada', para me informar mais sobre ela...
E eis que logo no primeiro dia na terra do Canguru, dou de cara com um iogurte em que havia o destaque para o índice glicêmico na embalagem:
Alguns dias depois, num almoço rápido no aeroporto antes do embarque, mais um exemplo:
Um restaurante de saladas, com a indicação do IG para cada uma disponível.
Existe inclusive um instituto de pesquisas glicêmicas - Glycemic Research Institute, que certifica produtos de baixo IG e amigáveis para pessoas com diabetes.
Volto de novo a bater nesta tecla, porque realmente acredito que pode haver alguma mudança a favor.
Quem sabe uma consulta junto à Sociedade Brasileira de Diabetes...
Em paralelo, vou conversar também com a minha Super e as amigas Nutricionistas.
Acredito que, se bem embasada e comprovada, a proposta pode ser muito bem defendida!
Já estamos em 2014 e as informações prestadas pela Anvisa estão com um atraso de pelo menos 5 anos em suas referências bibliográficas, isto quer dizer que as pesquisas a respeito de DM continuaram e existem muito mais informações a respeito deste assunto que não foram reportadas, inclusive, também existem tendências e diferentes opiniões dentro do meio acadêmico com muitas divergências entre eles, um prato cheio para organizações dentro de nossa pátria amada, justificando facilmente sua inoperância.
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