Que todo comentário frio se transforme em unicórnio!



- É diabetes? Meu primo morreu disso.

Não é porque eu aplico a minha insulina numa mesa de restaurante durante um almoço no meio da semana com toda a naturalidade que os 16 anos de diagnóstico me trazem, que uma pessoa pode se achar no direito de atirar em cima de mim esse tipo de comentário.

Diabetes nunca é "só" isso ou aquilo...
Diabetes é, o tempo todo, pensar em inúmeras variáveis. 
Diabetes é, o tempo todo - além de seguir os protocolos de glicemias e insulinas - ter que desviar de falas como essas pelo caminho.
Uma fala que veio seca, reta, entre a confirmação do meu pedido e o momento em que a garçonete viu a caneta de insulina na minha mão.

Acho que pela primeira vez, eu fiquei absolutamente sem reação numa abordagem para comentar comigo sobre o diabetes. 
Virei o rosto, segui com a agulha para o meu braço e o que consegui responder foi que atualmente temos mais acesso à informação e tratamentos. 

No fundo, eu até consigo pensar na falta de entendimento e educação em diabetes que ela, o primo e a família possivelmente enfrentaram. A questão é que, independente disso, a falta de empatia e cuidado não pode se sobrepor à nenhuma outra falta, seja do que for. 

Agora me pego pensando se eu deveria ter perguntado mais, se eu poderia ter explicado mais profundamente sobre tipos de diabetes, monitorização... 
Mas o choque do comentário frio me paralisou.

Eu sinto pelo primo dela, por ela, por tudo que tiveram que encarar numa perda que talvez pudesse ter sido evitada. 
Só que, para quem carrega o peso de uma condição de saúde que requer atenção e precisa ser gerenciada em cada segundo de cada dia, essa fala atinge de uma maneira cruel.

Pode parecer que não, mas em cada verificada que eu dou no meu glicosímetro ou no aplicativo do sensor no meu celular eu lembro do risco que uma glicemia alta ou uma muito baixa representam.
O tempo todo a minha mente trabalha organizando os 'dados' da rotina, do que está fora dela, do que deve ser descontado na conta de insulina, dos carboidratos que vão ficar ainda pairando na minha corrente sanguínea numa transformação teatral em açúcar.....................
São infinitas as interferências e ter que lidar com mais algumas como essa que ouvi hoje não ajuda em nadinha!

Ninguém vai mudar a forma de se cuidar ou se priorizar ou se empenhar através de um exemplo dolorido, duro e pesado.

Aplicar insulina em público não é e jamais será convite para qualquer um chegar dizendo qualquer coisa!

Enfim, cuidem do que vocês falam. 
Cuidem do que vocês apontam e jogam em cima das pessoas por aí... 


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