‘Dó’ é nota musical!
Sábado de preguiça, de acordar com calma lembrando que as férias estão só começando; de ir conduzindo o tempo do jeitinho que a gente quiser.
Chegamos sexta em Paraty.
Jantarzinho delícia, uma volta pela cidade que já respira os ares da Flip (um sonho sendo realizado!) e o merecido descanso pra nós dois.
Decidimos ir à Trindade para aproveitar o tempo bom, já que tem previsão de chuva para os próximos dias.
Uns 40 minutos numa estradinha linda.
Cidade movimentada, gente indo e vindo pelas ruas em busca do mar ou da cachoeira…
Até que:
Cena 1
Entrada do Parque Nacional da Serra da Bocaina
Fui abordada pela Ana Clara, funcionária do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, responsável pela manutenção e preservação local):
- - Com licença. Isso no seu braço é um Libre, certo?
- - É sim.
- - Não permitimos o consumo de alimentos dentro das praias e cachoeiras do Parque, mas no seu caso, você tem autorização para consumir se precisar, por causa do seu diabetes.
Cara! Isso chega a emocionar!
O tanto que eu fiquei feliz e me senti acolhida!!
Eu não perguntei à ela como ou porque ela conhecia o sensor, só agradeci do fundo do meu coração e segui tranquila para curtir meu dia de sol e de férias.
Cena 2
Praia do Rancho
Descemos da trilha e pela hora (pela fome também!), a decisão foi ir direto para um daqueles restaurantes com pezinhos na areia para almoçar.
Uma senhora me aborda:
- - O que é isso no seu braço?
- - Um sensor pra medir a minha glicemia.
- - Você tem diabetes?
- - Tenho.
- - Ah, que dó!
Eu congelei por um milésimo de segundo.
Acho que foi a água batendo no pé que me tirou do transe…
Falei que de jeito nenhum ela devia pensar aquilo.
Que eu tenho diabetes sim, mas que o entendimento sobre a condição me da total liberdade e segurança pra fazer tudo que eu gosto.
Um sorriso sem graça e um “parabéns então” foi a resposta dela…
Complementei dizendo que o caminho pra mudar esse pensamento é, principalmente, a educação em diabetes.
E segui, rumo ao meu sossego na beira do mar.
É inacreditável e inaceitável que esse tipo de coisa ainda seja dita pra pessoas com diabetes (ou qualquer que seja a condição e saúde).
É assim que o preconceito se espalha.
É assim que uma pessoa ainda insegura com o seu diagnóstico se apavora e passa a se colocar limitações que não existem.
Não sabe?
Pode perguntar.
Ficou curioso ou curiosa?
Pode perguntar.
Pergunte como é viver com diabetes, se a gente tem alguma restrição, se a gente se sente excluída ou com medo.
Mas não trate qualquer pessoa diabética com dó ou pena.
Falta de informação não é ‘passaporte’ para ser sem noção e falar o que quiser.
Não julgue um diagnóstico como o único fator que nos define.
Comentários
Postar um comentário