Crônicas do Isolamento -- "A gente quer viver pleno direito"

Me lembro quando foi anunciado que a partir da próxima segunda-feira deveríamos ficar trabalhando de casa por duas semanas. Uma semana depois, já se ampliou esse período para dois meses. Seguimos postergando até ser decretado que não voltaríamos ao escritório até o final do ano. 

O tempo está passando desde o primeiro dia de quarentena e a memória alterna em lembranças que são muito claras ou, as vezes, como se fosse um vulto. 

Já são dezoito meses dessa pandemia que ainda causa medo, tristeza, ansiedade. No meio de tudo isso, uma certeza: a vacina é o nosso maior escudo. 

Hoje acordei e cedinho já estava no posto de aplicação esperando pela minha segunda dose. 
A glicemia toda esquisita. Hipo no despertar, hiper de rebote... Haja insulina na espera da vacina!!

Os atendentes estavam meio enroladas: muita gente esperando seu momento. Ufa!
Esperei na minha fila com paciência. E enquanto esperava, fiquei observando as pessoas. Uns agarrando o comprovante da primeira dose com força (eu, inclusive!), outros focados no celular, outros batendo papo com quem via pela primeira vez na fila, os preocupados por não ter qualquer comprovante mas saber de cabeça as informações que precisavam... um único comportamento comum a todos: a prontidão na hora de se dirigir aos enfermeiros quando eram chamados.

Seringa nova. Agulha nova. Frasco, conferência do laboratório, conferência da validade, conferência da dose: pronto!

De novo chorei.
De novo a emoção imediata quando chegou a minha vez.
De novo uma sensação de alegria por um alívio comedido.

Uma expectativa pelo que está por vir, uma luz no caminho pós isolamento, um enorme agradecimento do fundo do coração por ter chegado sem qualquer susto maior até aqui. Mistura esse tanto de 'sentir' com a decepção por quem expõe os demais, por quem se recusa a se vacinar por um egoísmo que faz esquecer que imunização é pelo coletivo.

Que tempos tão estranhos!

Vi uma moça chegando no posto de vacinação acompanhada de quem, imagino, fosse seu pai. Um choro doído que sem dúvida significava que já havia perdido alguém. Essa realidade é dura e vem assolando o nosso país pela irresponsabilidade e pelo egoísmo de quem rouba em vez de cuidar. 

563.707 lutos no Brasil até aqui.
Nem 22% da população brasileira completamente imunizada. 

Quarentena, dia 513.

Que os cientistas não desistam, apesar dos pesares.
Que os humanos se conscientizem.

~ A gente quer viver pleno direito
A gente quer viver todo respeito
A gente quer viver uma nação 
A gente quer é ser um cidadão ~

Como mantra com Gonzaguinha na vitrola, o desejo de que a gente tenha força para se manter firme e com esperança por dias melhores. 



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