Crônicas do Isolamento -- Reflexos de uma Quarentena

Lá se vão 6 meses!
Passei pelas 5 fases: 
  • Negação: no começo, achei que fosse só uma questão pontual que não chegaríamos aos números tão absurdos de casos e óbitos.
  • Raiva: fiquei louca vendo que as pessoas não respeitavam as orientações de segurança e prevenção... já tinha percebido que esse era o caminho para deixar a situação um pouco menos grave.
  • Negociação / barganha: comecei a agir em todas as minhas 'frentes': amigos, família, namorado, colegas de trabalho. Minha intenção era só uma: garantir que todos os que eu quero bem tivessem entendido a importância de ficar em casa, protegidos. Minhas ferramentas foram simples: facilitar o acesso a mercado e diversão online!! 
  • Depressão: me fechei para tudo e para todos. Não queria ver notícias, não queria conversar pela tela do computador, não queria participar de eventos online, não queria mais falar sobre o assunto. Travei! Me voltei para a casa e o trabalho. Só! Não tinha vontade de fazer mais nada. Até dos meus livros eu estava afastada.
  • Aceitação: foi um longo processo! Nada fácil, ao contrário. Mas agora, consegui enxergar que eu não posso resolver o problema para além do que está ao meu alcance fazer. E entendi que enquanto eu ficasse presa à soluções inalcançáveis, eu me afundaria cada vez mais.
Acho que, em resumo, eu estava em modo de espera. 
Esperava que não fosse tão sério. Esperava que fosse passar logo. Esperasse que fosse exagero. 
Mas não era. Não é.
Pandemia significa epidemia amplamente disseminada. Nesse caso atual, acontecendo mundialmente. 
Só tinha ouvido falar nos livros de história. Agora, nós vivemos a história que vai estar nos livros. 

E, nesse pontinho brasileiro chamado Rio de Janeiro, acho que a história vai ser ainda mais expressiva e delicada. 
Não consigo entender porque tantos parecem não enxergar o que está ao alcance dos olhos...

Não vou fazer mau juízo daqueles que precisam estar expostos por trabalhar na linha de frente - seja qual for a sua responsabilidade, dqueles que precisam continuar se expondo no transporte público para chegar até o seu trabalho por não ter como se manter em segurança sem o salário suado. Dos demais, que usam e abusam da sua condição de morador da cidade maravilhosa para lotar praias, bares, shoppings e restaurantres como se fossem imunes, agradeço por estarem bem longe de mim.

Desses, sem máscara, sem vergonha e sem responsabilidade, eu quero distância!

Por aqui, são 6 meses de quarentena seguidos à risca. Coloquei a cara na rua por três vezes apenas durante esse período. No fundo eu me preveni por uma soma de variáveis: medo (olha o grupo de risco de gente doce pelo diabetes!!), cuidado com os que têm que estar nas ruas, expostos, e, no fundo, porque realmente achei que isso fosse passar logo. 
Na minha cabeça, se todos cumprissem as regras, ia passar. Só que não cumpriram. E não passou. E tudo se estendeu. O egoísmo imperou.
Os números, as vidas encerradas, a irresponsabilidade, tudo cresceu! 
Nesse pacote, minha tristeza e minha irritabilidade também.

Não estava bom. 
Esse peso da tristeza não faz bem... nem para mim, nem para quem está do meu lado. 
Decidi sair da bolha.

Não, não saí por aí arrancando a máscara e colocando a saúde em jogo. Mas decidi que estava na hora de levantar a cabeça e voltar a respirar com tranquilidade, mesmo dentro do sossego e da proteçção da minha casa. Sem a ansiedade que tinha assumido um posto de protagonista enquanto eu pensava no que viria amanhã.

Amanhã vira ontem muito rápido! E é preciso cuidar para não deixar esse amanhã vazio.
Voltei a preencher minha horas com afeto, com amor, com riso, com mais espaço para quem eu sou de verdade (e estava sentindo falta de ser). 
A agenda voltou a ter os registros das horas preenchidas com o pilates (e a glicemia já agradeceu!), para os cursos, para os estudos. Para a consulta com a minha Super endócrino (desde o final do ano passado não vou... a pandemia e a necessidade de isolamento me levaram a desmarcar), para o mergulho nos meus escritos, para os cursos... O mais incrivel é que o tempo parece ter ficado maior. 

Continuo esperando... os reencontros, os abraços, a vacina, os finais de semana ao ar livre, os ensaios da minha batucada, o carnaval, a hora de fazer check in no aeroporto, de conhecer mais um pontinho novo no mapa. Continuo esperando até a hora de testar a insulina ultra-rápida mais nova que já chegou nas farmácias... Continuo de olho vivo na minha glicemia, que também andou variando bastante.
A diferença é que, agora, voltei a esperar com leveza.

Sensores, tirinhas, agulhas. 
Insulina, carboidratos contados, hipoglicemias na madrugada. 
Máscara. 
Música. Filme. Série. Novela!
Trabalho. Reunião. Email.
Baralho novo. Roupa nova. Livro novo.
Todo dia, um dia (quase) igual. Mas um dia novo.

Quarentena, semana 26, dia 180.
Vai passar. 



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