Muito ajuda quem não atrapalha!

É cansativo ter que medir a glicemia muitas vezes. 
É cansativo ter que explicar repetidas vezes que o meu diabetes não foi causado porque eu comi muito doce. 
É cansativo ter que dizer que sim, eu posso comer isso (seja um doce, seja uma pizza...).

Mas mais do que tudo, é muito cansativo ter que lutar contra o preconceito e a falta de informação e entendimento sobre o diabetes. 

Mais um mês de conscientização começa e a gente precisa reforçar - ainda - o básico.

No dia 03 de novembro, durante uma prova do Enem, um menino de 17 anos no sul do país foi retirado da sala porque um alarme tocou no seu celular. 
Vamos aos fatos: 
- ele havia informado sobre o diabetes tipo 1 na sua inscrição
- ele havia informado sobre a necessidade de medir a glicemia durante o exame
- ele havia informado sobre o do sensor de monitoramento da glicemia
- ele tinha um laudo médico comprovando tudo que havia informado durante a inscrição.

Durante a prova, o celular dele ficou desligado, como é exigido, e estava com o fiscal da prova sem que o candidato tivesse qualquer acesso a ele. 
No entanto, com o sistema de monitoramento que ele usa para controlar a glicemia e o diabetes, o alarme do celular apita ainda que o aparelho não esteja ligado. 
Isso acontece por segurança, já que ele pode estar passando por uma queda ou elevação repentina da glicemia.

Pois não teve conversa nem espaço para ele reforçar o que já havia sido explicado antes... 

Há pouco menos de um mês, eu fiz a prova do concurso do BNDES. 
Foram 8h divididas em dois turnos... 
Na minha inscrição, eu também informei sobre o diabetes e sobre a minha necessidade de medir a glicemia ao longo da prova. 
E no dia da prova, informei aos fiscais sobre o sensor, sobre os alarmes e uma das fiscais da minha sala ficou com o meu celular durante toda o tempo de prova. 
Quando eu precisava medir, ela ficava do meu lado e acompanhava o processo inteiro, desde o desbloqueio do celular, uso do aplicativo até a trava do celular de novo. 
Eu não tive qualquer problema!
Não me senti envergonhada ou passei por situações vexatórias em nenhum momento em que pedi a ele para me trazer o aparelho porque eu precisava medir a glicemia. 

Essa situação não deveria ser excessão. 
Esse deveria ser o básico para quando uma necessidade específica é informada em inscrições de provas. 

"Ah, mas você fala muito sobre diabetes..."
Eu falo pouco! 
Todo 'muito' parece 'nada' quando uma situação assim é relatada. 
É inaceitável que esse tipo de coisa continue acontecendo pela falta de conhecimento e entendimento sobre uma condição de saúde que segue cheia de estereótipos e mitos em volta. 

Parem! 
Perguntem. 
Esclareçam.
Não façam esse papelão de constranger e isolar sem entender nada. 

Eu não gosto de puxar para o lado do peso da condição... 
Só que tem horas que não dá para a gente seguir com leveza. 
O diabetes é uma doença crônica que tem tratamento. 
Mas quando falta acesso, tem espaço para as complicações. 
Quando falta informação, tem espaço para preconceito! 

Diabetes mata e não é só por falta ou excesso de insulina. 

Quem tem o diagnóstico do diabetes trava uma batalha com a vida todos os dias. 
Então, se não for para ajudar com uma conversa, uma pergunta querendo saber mais ou até mesmo para buscar uma coquinha no meio e uma hipoglicemia, se afastem.
Muito ajuda quem não atrapalha!

Tirar um jovem de 17 anos de uma sala de prova por falta de entendimento é um absurdo que pode impactar em muitos níveis a vida desse menino. 

Parem de excluir, de desmerecer, de julgar, de acusar. 

Que haja justiça.
Que esse caso triste sirva de exemplo para que não se repita o que é errado.
Que daí a gente tire (mais) força para continuar falando e buscando a verdadeira conscientização, orientação e acesso sobre o diabetes. 









Comentários

  1. Anna Patrícia4/11/24 00:44

    CIRÚRGICA. Obrigada por tanto!

    ResponderExcluir
  2. Olá. Bom dia. Que você continue sendo a voz do diabéticos.
    Me chamo Robson, 45 anos e tenho diabetes, desde 10 anos. E é uma luta diária.. uso tresiba e asparte e faço as picadas de dedo muitas vezes ao dia.

    ResponderExcluir

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