Crônicas do Isolamento -- Fora da nova ordem mundial...

Aquela olhadinha na glicemia antes de dormir e o sensor me joga um 57mg/dL na cara! Levanto num pulo!! 

Antes de qualquer atitude, ponta de dedo: ela me aponta 125mg/dL. Tava estranhando um valor tão baixo sem sentir qualquer sintoma... Respirei aliviada e segui tranquila pro meu sono. 

O sensor tem dessas, vez ou outra dá uma desorientada e voltamos à boa medição de glicemia capilar, para tirar qualquer dúvida. Mas o fato é que, nesses tempos em que nós, pessoas com diabetes, temos sido lembrados e destacados como grupo de risco a cada matéria, a cada notícia, a cada divulgação de planos de vacinação contra o coronavírus, uma glicemia baixa assusta ainda mais. 

Desde o começo dessa pandemia, no início de 2020, passei a ficar mais alerta em relação à minha doçura. Se antes já não deixava passar 3 ou 4 horas sem dar uma olhada na glicemia, agora meço a cada duas horas. 
Sei que no caso de uma gripe, que seja, nossa glicemia pode se alterar. Então, penso que qualquer coisa esquisitita que o glicosímetro indique pode ser um sinal de que "alguma coisa está fora da ordem"... 

Estou quietinha em casa, respeitando o isolamento por mim e por quem precisa sair para trabalhar. Por mim e por quem eu amo.
Daqui, em home office, agradeço o meu privilégio de estar em uma empresa que nos mantém afastados do escritório para ajudar a garantir o mínimo de segurança. E, mesmo assim, me pego cheia de medo quando a garganta arranha ou quando surge um espirro! 

Esta semana estava assim: garganta coçando, bem incômoda. Nariz daquele jeito que parece ter alguém apertando. Pronto! Comecei a pensar mil possibilidades, entre elas o maldito do vírus, claro. Minha razão, nessas horas, não ajuda.

Me acalmei, parei para pensar no que poderia estar causando isso tudo e veio a luz. Além da mudança de temperatura (chuva e um friozinho bom de outono), o meu prédio está com obras na fachada e, neste momento, na minha coluna. Por mais que deixe as janelas todas fechadas, aquele pozinho fino de obra passa. O resultado foi uma baita crise alérgica! Antialérgico em ação, as coisas começaram a melhorar... 

Há mais de uma ano estamos vivendo essa confusão de sentimentos. Quem nunca ficou assustado com um espirro de repente? Quem nunca sentiu o coração acelerar quando se viu saindo porta afora sem máscara? São segundos de agonia que logo depois podem até passar, mas já deixam um rastro de insegurança. 

E quando nos damos conta pelas notícias ou em uma rápida ida à padaria, da falta de cooperação e de senso de coletividade do outro, isso só faz piorar a sensação de impotência. 
Difícil acrditar que isso tudo está perto de acabar. 

Por outro lado, a vacina chegou e a campanha de vacinação - mesmo a passos bem lentos - segue. Daí é que surge a esperança e começa a brotar um certo alívio. Principalmente por ver os familiares e amigos vacinados e por saber que agora chegou nossa vez: pessoas com comorbidados, enfim, estão incluídas no Plano Nacional de Imunização. Ufa! 

Enquanto aguardo a minha vez, guardo a saudade de ter a casa cheia, de sair sem preocupação, de não ter que pensar e repensar qualquer movimento, seja pegar a entrega do restaurante na portaria ou decidir se devo ir ao hortifruti ou pedir pelo delivery. 
Enquanto aguardo a minha vez, tento não enlouquecer pela falta de empatia que, aqui no Brasil, começa nos (ir)responsáveis que governam o país e vai até aqueles seres (humanos??) que ignoram as regras e orientações de prevenção e cuidado. Por que se acham mais importantes e fazem o que bem entendem, sem pensar no quanto as atitudes egoístas prejudicam e afetam tantos? Jamais vou conseguir entender. 

Com tanta coisa fora da nova ordem mundial, haja serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar. 


Daqui, prefiro seguir o que a minha razão - pelo que vale o que está no coração - preza, um dia de cada vez.

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