Quanto custa uma vida?
Temos passado por situações aqui no Rio de Janeiro em que a
saúde está rastejando. Falta atendimento, falta medicamento, falta atenção,
falta leito, falta tudo. Falta do algodão ao respeito. A saúde do Rio está trazendo –
ainda mais – o caos para a cidade. E sei que por todo o Brasil isso se repete.
Especificamente sobre o diabetes, quem depende do sistema
público segue na briga com a justiça e as insistentes idas às unidades de
atendimento para receber os insumos a que tem direito. E aí, quando não tem,
quando “acabou e ainda não tem previsão de chegar”, entra o esquema de
solidariedade e cumplicidade que cria um grande movimento de doações e trocas
para tentar garantir que ninguém fique sem o que precisa, de tiras teste a
agulhas e insulinas. Se é correto ou não, não me cabe julgar. Quando tenho a mais
faço questão é de participar e dividir.
Eu sempre digo que é possível viver bem com diabetes. Acredito
mesmo que seja assim. Mas também sei que só é assim quando a gente tem acesso à
insulina, ao tratamento e à educação! Antes, quando tudo o que se tinha era reagente para urina e
insulina animal, tentando imitar e proporcionar o que faltava no organismo, já
se esperava evolução do cuidado e um mínimo controle. Hoje estamos em um tempo
de glicosímetros que dão resultados em segundos, que mostram o tempo dentro da
meta glicêmica esperada, de informação compartilhada, de conhecimento desenvolvido,
de insulinas com diferentes modos de ação, de sensores, de sistemas de infusão
contínuo de insulina. O fato é: de que adianta ter tanto no mercado, mas não ter
nas mãos de quem precisa?
Por aqui se luta por mudanças nos protocolos de saúde,
incluindo tratamentos mais eficazes e que promovem uma melhor qualidade de vida
para as pessoas que convivem com o diabetes; por aqui se unem forças de especialistas
e pacientes... Nos colocamos como iguais lutando uns pelos outros pela “universalidade,
integralidade e equidade”, por saúde.
Não é possível que ainda se fale em complicações por falta
de acesso a tratamento. Não é possível que se escute falar de fatalidades por
falta de acesso a tratamento.
E não é possível que ainda existam países em que o acesso a saúde seja uma questão individual, ‘cada um que cuide do seu próprio umbigo’.
E não é possível que ainda existam países em que o acesso a saúde seja uma questão individual, ‘cada um que cuide do seu próprio umbigo’.
Nas últimas semanas ouvi, pelas redes sociais que nos
conectam com o mundo, as histórias de dois jovens que não se conheciam, mas que
tinham duas coisas em comum: o diabetes tipo 1 e o fato de morarem nos Estados
Unidos. Ah, eles tinham mais uma coisa em comum: não conseguiam arcar com os
custos da insulina. Lá, o preço da insulina é absurdo. Um frasco chega a custar
entre 200 e 500 dólares... Realmente fica inviável pagar. Fica inviável
sobreviver.
Existem movimentos e associações batalhando para tentar
mudar as políticas de acesso a medicamentos e tratamento – e, como aqui, são
incansáveis. Mas para aqueles dois jovens, não deu tempo. Eles perderam a
briga por não terem acesso ao que garante a vida.
Morrer porque não conseguiram comprar insulina em função do alto custo é um absurdo! Não dá nem para imaginar o que deve ser saber que existe um tratamento que GARANTE a sua vida e não ter acesso a ele.
Morrer porque não conseguiram comprar insulina em função do alto custo é um absurdo! Não dá nem para imaginar o que deve ser saber que existe um tratamento que GARANTE a sua vida e não ter acesso a ele.
Seja onde for, isso é inaceitável. A vida de alguém jamais
deveria estar acima de cifrões e interesses seja de quem for.