Sobre obstáculos e oportunidades...
No início do ano a gente costuma fazer aquele balanço do que ficou pra trás e de tudo que carregamos com vontade para os próximos 365 dias.
Comigo não foi diferente e uma das coisas era uma dedicação maior na educação em diabetes.
Eu conheci este conceito sem nem saber que era uma coisa pensada, estudada e aprovada por quem mais entende do assunto. Para mim, o nome veio, a princípio, para explicar um pouco do que eu já andava fazendo.
Educação em diabetes, numa maneira bem simples e direta, significava dividir a minha experiência convivendo com a doçura, mostrar os passos dados na direção certa e os tropeços do caminho, falar de descobertas, de possibilidades e aprendizados, muitos deles! De uns anos pra cá, eu percebi que isso tudo tinha como base o conceito firme de educação.
Eu não sou educadora formada ou certificada e nem quero tirar o mérito desses profissionais que tanto respeito. Da mesma maneira, não sou formada em qualquer especialidade de saúde. Meu conhecimento vem do que eu busco para mim, desde o meu diagnóstico. Vem do que eu questiono, do que eu pergunto, da parceria da minha endócrino que nunca deixa me esclarecer qualquer coisa e do que eu entendo que seja importante para viver melhor a cada dia, independente do diabetes.
Pensando assim, fui buscar a técnica quando descobri que existia esta possibilidade... Uma universidade de São Paulo oferece o curso de Pós-Graduação de Formação de Educador em Diabetes. Meses tentando obter as informações sobre os requisitos para poder cursar (as aulas são online) e finalmente me foi dito que era preciso ter apenas uma graduação, qualquer que fosse.
Fiz a avaliação e fui aprovada. Matrícula feita, expectativa lá no alto e uma alegria enorme.
Foi, por 1 mês e meio.
Em maio fui surpreendida com a notícia de que minha matrícula seria cancelada, pois eu não sou formada em nenhum curso da área da saúde.
Não vou contar aqui todo o desenrolar da história - é longa e já me desgastou o suficiente. O que quero registrar é o tamanho da minha decepção e indignação com o que aconteceu. A Universidade foi falha, irresponsável e, no final das contas, alegou que hoje há a informação de que este requisito está claro nas especificações da Pós lá no site da instituição (apenas pontuando: quando fiz a avaliação, fui aprovada e me matriculei, não havia qualquer detalhamento na página deles e jamais me foi solicitada esta comprovação). Além de ter me custado grandes discussões, ainda fui desrespeitada por uma Associação da área, que acabou entrando no jogo porque foi obrigada a cancelar também a minha inscrição num Congresso sobre diabetes.
Justiça seja feita, fui reembolsada em 100% dos valores despendidos. Mas, honestamente, isso era o mínimo!
Meu objetivo com a pós era tão somente ampliar o meu entendimento sobre a patologia, para me cuidar melhor, para poder dividir mais.
Deixei a poeira baixar e a raiva dar uma amansada. Confesso que deu até uma desanimada em relação ao meu IP, mas passou! Só que a sensação de ser colocada em julgamento foi péssima e me fez pensar muito no que faço aqui.
Não faço por vitrine, não faço para ser reconhecida e menos ainda achando que sou a maior entendedora do assunto.
Vou lá em dezembro de 2010, no primeiro post deste blog, para trazer de volta o que eu escrevi naquelas primeiras linhas e que segue sendo meu norte: "Minha única intenção é passar um pouco da minha experiência como portadora de Diabetes Tipo 1. Apesar de ser uma doença (e séria), descobri que é perfeitamente possível (con)viver com ela."
Sigo nessa base. Sigo com este foco.
E a boa nova é que as oportunidades aparecem e comigo não foi diferente. Depois de todo esse transtorno, na última semana veio a indicação para um curso sobre comunicação em saúde nas redes socais da Fiocruz. Uau!!
Pois então, inscrição feita aos 45 do segundo tempo e hoje saiu o resultado: fui selecionada.
Lá vou eu, animada e feliz com esta possibilidade de agregar conhecimento com um especialista no tema e numa instituição que eu tanto respeito.
Por que? Para que?
Porque ainda há muito o que fazer!
Enquanto as pessoas não entenderem o que é o diabetes, há o que fazer.
Enquanto o diabetes for tratado como a 'doença do açúcar', há o que fazer.
Enquanto o paciente não tiver voz, há o que fazer.
Enquanto a educação em diabetes não for levada como parte do tratamento, há o que fazer.
Enquanto faltar insumos e medicamentos vitais para quem precisa diariamente, há o que fazer.
Enquanto diabéticos forem tratados com descaso e desrespeito, há muito o que fazer!
E enquanto tiver isso tudo aí a ser feito eu vou buscar forças, seguir acreditando e vou fazer.
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