Dez anos doces!

As agulhas eram de 8mm.
Eu não sabia diferenciar o diabetes tipo 1 do diabetes tipo 2.
As canetas de insulina foram um alívio: tinha pavor de pensar em manejar seringas e frascos!
Perdi umas 3 lancetas antes do primeiro furo no dedo, só porque queria entender como aquele lancetador funcionava.
Foram horas em cima das minhas receitas, do livrinho de contagem de carboidratos e das minhas canetas de insulina, para tentar assimilar de uma vez cada passo daquela nova rotina que tinha invadido a minha vida.
O choro correu solto por horas e horas também! Só sentia medo, muito medo.
É assim com o desconhecido... 
- E agora, como vai ser? No que isso vai modificar os meus dias? Do que eu vou ter que me privar para ficar bem? O que isso vai me tirar?

Uma enxurrada de perguntas por segundo passando pela minha cabeça naquele 17 de março de 2009.

Eu teria muitas tarefas por dia a partir dali: medir a glicemia umas seis vezes, aplicar insulina outras cinco ou seis, anotar tudo o que eu comia em cada refeição, anotar cada resultado de doçura que o glicosímetro me mostrava. Junto com tudo isso, precisava reorganizar a minha alimentação, trabalhar, planejar como seriam as próximas viagens de trabalho e - de alguma maneira - manter a calma. 

Calma??! Essa veio disfarçada.
Lá no começo, eu ainda pensava que aquilo ia passar. Que era só um momento em que meu organismo tinha se atrapalhado e que logo o diabetes intruso iria embora.
Quando a insulina começou a deixar tudo em ordem novamente, fui direto no ponto: "tá vendo, minha glicemia está ótima. Isso vai passar".
Não passou.

Mas o pânico passou.
Aos poucos, aquele pânico de que eu teria que parar tudo e seguir a minha vida em função do diagnóstico foi passando.

Eu viajei.
Eu passeei.
Trabalhei.
Carnavalizei.
Eu apliquei insulina.
Eu medi. Contei, corrigi.
Eu errei. E acertei também.
E aprendi!
Aprendi muito.
Em cada dia de cada ano desde o momento do meu diagnóstico, eu aprendi. 

E me informei. Ganhei conhecimento, entendimento.
A visão sobre aquela tal doença crônica que até então eu pensava que só acontecia para pessoas bem mais velhas e sedentárias mudou também.
E eu quis ir além... 

Hoje, 3.652 dias depois, eu percebo que o diabetes não me tirou nada!
Ao contrário, a doçura que chegou de supetão e mudou tudo me trouxe um tanto...
Me trouxe amigos e oportunidades.
Me trouxe conhecimento, viagens.
Me trouxe a mudança da profissão, a volta aos estudos.
Teve Congresso Mundial de Diabetes (até aqui, foram dois), teve evento para pacientes mundo afora... em cada oportunidade, a chance de levar a minha experiência para dividir com outros tantos.

Experimentei a escolha por querer criar uma nova forma de conviver com o diabetes, diferente daquela que, até então, eu tinha ouvido falar: a que só traz o obscuro, o que limita, o que incapacita.

Experimentei ir contra a maré e viver sem abrir mão de nada que me faz feliz. 

Experimentei mais amor, mais solidariedade, cuidado, dedicação, carinho.
Toda a força que veio para me ajudar a quebrar protocolos...
Uma mudança de paradigmas. Um renascimento. 


Não é fácil. Não é simples. Mas é possível. 
Nesses dez anos, eu venho conquistando, realizando e vivendo bem. 

Lá se vão os meus primeiros dez anos doces. E eles se deram sem internação, sem susto, sem complicação. 

Agradeço com todo o meu amor à minha Super Endócrino, que desde o primeiro momento foi de parceria e, além de me orientar, me acolheu.
À minha família, que é a minha base e a minha fortaleza.
Aos meus amigos. Ao meu amor. A todos que vem caminhando junto comigo...
Vocês são as minhas insulinas portáteis de todos os dias!!

Que venham todos os próximos anos dessa vida de doçura. 
Que eu possa continuar indo em frente com paciência, resiliência e controle. 
O diabetes não é uma sentença!


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