Ei, piauí... mais respeito!

A Revista piauí divulgou uma matéria cheia de acusações sobre a utilização das bombas de insulina para o tratamento do diabetes tipo 1.

https://piaui.folha.uol.com.br/nos-tribunais-o-lobby-das-bombas-de-insulina/
No texto, palavras como lobby e sentença se sobrepõe a outras tão maiores como saúde e vida. 

O jornalista fala sobre o favorecimento a um fabricante, destaca testes "oferecidos todo mês em associações de diabéticos" e enumera decisões judiciais que "condenam" o SUS a pagar pelo tratamento com o uso do sistema de infusão contínuo de insulina.

A publicação segue citando nomes, ações judiciais e comparação com o tratamento similar  oferecido pela fabricante concorrente. 

Reproduzo um trecho exatamente como escrito pelo jornalista, onde ele dá fala a um especialista que leva a entender que a bomba de insulina nada mais é do que mero luxo: 
"Outro modo de controlar a diabetes é injetar manualmente a insulina, técnica mais barata (300 reais por mês, em média; a bomba custa cerca de 2 mil reais mensais). "A bomba é um 'plus', uma comodidade. Não se controla a doença só com o equipamento e nem há prejuízo à saúde pela falta dele. Basta aplicar [insulina] várias vezes ao dia", afirmou Miguel Nasser Hissa, da Sociedade Brasileira  de Endocrinologia e Metabologia".

Eu não sei quão a fundo o jornalista estudou sobre o tema e conversou com pessoas que convivem com a doença para saber de fato quais são as diferenças e os benefícios de todos os tipos de tratamento que existem hoje.

Gostaria muito de saber se ele conhece os diferentes tipos de insulina. 
Se ele sabe o que é um análogo. 
Se ele sabe o que é ter uma hipoglicemia. 
Mais: se ele sabe que as hipoglicemias podem ser assintomáticas. 
Mais ainda: se ele sabe que uma hipoglicemia pode ser severa a ponto de ser irreversível e matar. 

Gostaria de saber se ele ouviu sobre a rotina de uma pessoa com diabetes que usa bomba. 
E sobre a rotina dos que usam múltiplas doses de insulina aplicadas com seringa ou caneta.
Se ele sabe o que é a contagem de carboidratos. 
Se ele sabe que quem tem diabetes precisa das várias doses de insulina - sejam por canetas ou bomba - para viver. 
Viver. 

Em um outro trecho da matéria, o jornalista afirma que o governo paulista "argumenta que a bomba não é essencial à sobrevivência do diabético."
Aqui eu faço questão de, novamente, trazer exatamente o que consta na publicação: "A bomba de infusão de insulina não é um item indispensável à sua sobrevida, mas uma tecnologia que traz comodidade ao paciente".

A todos os que apontam quase como um crime o uso da bonda após sucesso em um processo judicial, eu peço que conversem com os responsáveis de uma criança que usa tal 'comodidade'. Peço que procurem saber qual é a realidade desta criança que passa o dia na escola e graças a esta 'comodidade' tem a segurança de receber doses regulares de insulina. 
Procurem saber diretamente das pessoas que utilizam a bomba, independente de quem seja o fabricante, o porque desta escolha. Será que testaram outro tipo de tratamento antes? Se sim, não se adaptaram? Não foi o suficiente? 

Uma matéria que vai atrás de uma história sem apurar todos os lados me soa, para dizer o mínimo, estranha. Indicar "76% das decisões que deram o aparelho a diabéticos" considerando somente alguns municípios de um único estado (São Paulo) me parece muito tendencioso.
Eu já fiz o teste com a bomba e não me adaptei nem à de um fabricante e nem à do outro
O tratamento para o diabetes tipo 1 evoluiu bastante - ainda bem! - e segue evoluindo. Um dos maiores avanços é que ele se tornou individualizado. 
Portanto, não há que se generalizar que a bomba é comodidade. Que a caneta é comodidade. Que a seringa é a verdade absoluta e garantia de qualidade. 
Qualidade de vida se mede pela saúde de cada pessoa que precisa de um tratamento diário para sobreviver, e não pelo quanto ela precisará gastar para isso, seja com recursos próprios ou do governo. 

Os tratamentos mais 'modernos' podem ter um custo imediato maior, mas que tal pensar que eles reduzem os custos com as complicações e internações futuras? 
Não me venham diminuir à meras comodidades o que representa a vida de um ser humano. 

Ah, e sobre a judicialização, por enquanto é o caminho até que os protocolos de saúde evoluam também. 

Questionem sempre. Mas estudem e tenham respeito! A vida de alguém vai muito além da briga de poder e dinheiro. 


Comentários

  1. Juliana, achei ótimas suas colocações. Sou diabético desde 1987, tenho 46 anos e há 19 sou usuário de bomba de insulina. Utilizei todos os tipos de tratamentos até hoje, e a bomba de insulina me mantém com glicada de 6,2 desde julho de 2000, sem sequelas e com uma vida normal. Ninguém da Revista Piauí me perguntou sobre minha saúde antes da publicação em dezembro de 2018, pois certamente eu seria um péssimo referencial para eles. Um abraço

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